Por Plínio Aguiar
Refeitório tedioso, quadra de esportes cinza e piso desinteressante. Ao direcionar os olhos para o céu: prédios. Assim era a vista do espaço recreativo da escola estadual Professora Carolina Augusta da Silva Galvão, na Vila Prudente, na zona leste de São Paulo. Para reverter situações como essa, o projeto Escola Criativa entra em ação e traz cor as escolas.
Ativo desde 2011, o intuito do projeto é preencher espaços recreativos com intervenções artísticas, as quais os alunos possam não só brincar e interagir, mas também aprender.
No dia 29 de setembro, educadores, alunos e participantes do projeto se reuniram para pintar o espaço. "Alunos estavam sujos de tinta, mas com um sorriso no rosto, assim como todos nós", contou a educadora e cabeça do projeto Raquel Ribeiro dos Santos. Desde então, durante o recreio, crianças brincam na amarelinha em 3D, tabuleiro de xadrez ou no mapa do Brasil.
“Hoje eu gosto de vir estudar, porque a minha escola é colorida e agradável", disse sorrindo o boliviano Alan Rodrigo Condori, de 10 anos, estudante do 5º ano - a escola recebeu apenas 5.5 pontos na última avaliação do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). "No recreio, todo mundo vem para cá brincar", contou ele, que mudou para o país recentemente.
O projeto se dá em três partes: a transformação tem início com um estudo realizado por uma equipe de educadores, designers, arquitetos e artistas sobre o espaço que irá receber a intervenção. Em seguida, cria-se um plano de ações que abarca a revitalização da área comum do colégio, como quadras, pátios e corredores, a partir de pinturas pedagógicas e instalação de mobiliários e equipamentos. Por fim, aplica-se um programa de formação de gestão cultural aos professores dentro da comunidade escolar para que a mudança se mantenha. "Os docentes são instruídos a trabalhar com linguagens artísticas já familiares aos mais novos", relata a educadora.
“Temos um mapa do Brasil, então dá para brincar de descobrir os Estados brasileiros e suas capitais", conta a estudante Raissa Soares da Silva, de 11 anos.
Durante a confecção das obras, artistas consagrados como Daniel Melim, Celso Gitahy, João Lelo, Presto, Tec Fase, entre outros, contribuem para a realização de um espaço recreativo agradável.
Dificuldades
Realizado por meio da lei de Incentivo à Cultura do Governo Federal e patrocinado pela Pirelli e Machado Meyer Advogados, o projeto já transformou 40 escolas paulistas. Para participar é fácil: apenas solicitar a mudança artística para o Instituto.
Após a vitória do projeto da lei federal, é o momento de capitalizar recursos para tornar o projeto viável. Aí mora a maior dificuldade, segundo a educadora Santos. "Não são muitas as empresas que escolhem apoiar o nosso programa ou elas não tem muito dinheiro disponível", diz. "E isso dificulta a expansão do Escola Criativa.''
A aluna da 4ª série Ana Luísa de Alencar Silva, de 10 anos, vê o impacto do projeto como positivo em sua escola, e almeja que seja expandido. "A escola, se comparada com antes, é outra. Seria muito legal fazer isso em todos os outros colégios", comenta.
“A arte urbana traz o diálogo entre estética e estrutura. E isso não pode ficar de lado nas discussões de comunidades escolares. É preciso que todos estejam a par", argumenta a educadora.
Carandiru
Palco de um massacre em que vitimou 111 detentos em 1992, o Carandiru, em Santana, na zona norte da cidade, hoje cedeu espaço a um complexo. No local, uma ETEC de Artes oferta cursos como dança, canto, arte dramática, regências, processos fotógrafos, produção de eventos, design de interiores e paisagismo.
“Nada mais justo do que uma escola de artes com intervenções artísticas", disse Santos. No próximo dia 8 de dezembro, o espaço dará lugar ao movimento da Escola Criativa, onde pretende-se manifestar a democracia da arte ligada ao estudo.
R7 Notícias
https://noticias.r7.com/sao-paulo/escolas-publicas-de-sao-paulo-sao-salvas-por-intervencoes-artisticas-12112018
(Notícia na Íntegra)