Roberta Danelon Leonhardt e Daniela Stump
São, respectivamente, sócia e advogada do Machado,
Meyer, Sendacz e Opice Advogados
Os países partes da
Convenção - Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima devem se reunir em
novembro, dessa vez em Paris, para negociar o estabelecimento de novos
compromissos para redução de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE). Enquanto
os diplomatas trabalham para minutar um novo acordo que angarie o consenso de
196 chefes de Estado, os proponentes de projetos de Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo (MDL) necessitam hoje de investimentos que mantenham suas
atividades de redução de emissões em operação.
Os projetos de MDL foram
implementados em países em desenvolvimento, como o Brasil, com a promessa de
que novos períodos de compromisso de redução de emissões seriam acordados
pós-2012, o que até hoje não ocorreu.
Resultado disso é que o
mercado regulado de carbono está indo de mal a pior. O valor das Reduções
Certificadas de Emissões (RCEs), que equivalem à redução de uma tonelada de
carbono equivalente, está cotado hoje em torno de 0,5 - uitíssimo abaixo dos 20 que chegou a valer no auge do mercado de carbono.
Em consequência desse
colapso, muitos dos projetos concebidos para gerar créditos de carbono sob as
regras do Protocolo de Quioto foram redirecionados para o mercado voluntário,
em que as reduções de emissões são atestadas por organizações
não-governamentais e adquiridas por aqueles que visam compensar voluntariamente
suas emissões de GEE.
Neste contexto, a iniciativa
do Banco Mundial de realizar leilão para a compra de RCEs é louvável. O alvo do
Pilot Action Facility (PAF) são RCEs originadas a partir do abatimento de
emissões de metano liberadas por aterros sanitários, resíduos animais e
estações de tratamento de efluentes. O Brasil alberga muitos dos projetos de
MDL voltados à redução de emissão de metano e deve se beneficiar do leilão.
O PAF direcionará US$ 25
milhões para garantir aos vencedores do leilão um preço fixo (preço de
exercício da opção de venda) para a venda de RCE emitidas nos próximos cinco
anos por projetos de metano. Dessa forma, caso o preço de mercado da RCE no
futuro não seja compatível com os investimentos feitos pelo vencedor do leilão,
este terá a opção de vender a RCE pelo preço pré-acordado com o Banco Mundial.
O leilão deve acontecer em junho de 2015, em data a ser definida.
Esse será apenas o primeiro
leilão do PAF, que pretende angariar em torno de US$ 100 milhões para a causa.
Do valor almejado, Estados Unidos, Alemanha, Suíça e Suécia já disponibilizaram
em torno de US$ 50 milhões. As RCEs adquiridas pelo Banco Mundial não serão
computadas para fins de cumprimento de compromissos de redução - como se diz no
jargão técnico, tais RCEs serão aposentadas, promovendo um efetivo ganho
ambiental.
Mecanismos financeiros como
o PAF ajudam a trazer as discussões etéreas sobremitigação da mudança do clima
para o campo das ações. Proponentes de projetos brasileiros devem se inscrever,
garantindo a operação de suas atividades nos próximos anos e ajudando a
canalizar os recursos financeiros de países desenvolvidos para a redução de
emissões e promoção do desenvolvimento sustentável local.
Brasil Econômico - 22.05.2015, p. 31