Por Karin Salomão
A parceria com a Boeing não dá apenas força para divisão de aviação comercial da Embraer, mas impulsiona até as áreas da fabricante de aeronaves que não estão incluídas no acordo.
Mais de um ano depois do início das discussões, as fabricantes de aeronaves Embraer e Boeing fecharam os termos de sua parceria e criação de uma joint venture envolvendo a aviação comercial. O negócio, aguardado pelo mercado, dá força para a divisão comercial da Embraer sobreviver em um mercado cada vez mais concentrado e impulsiona os outros negócios da companhia, de defesa e de jatos executivos.
O negócio foi avaliado em 5,26 bilhões de dólares, valor acima dos 4,75 bilhões de dólares anunciados anteriormente, em julho deste ano. A Boeing ficará com 80% do negócio por um pagamento de 4,2 bilhões de dólares, ante os 3,8 bilhões de dólares que constavam do primeiro memorando de entendimento. Essa joint venture envolve apenas a divisão comercial da fabricante brasileira de aeronaves, sua maior divisão e fonte de receitas, mas pode ajudar a impulsionar seus outros negócios.
A parceria ainda precisa ser aprovada pelo governo brasileiro. Somente depois desse aval o acordo entre a Embraer e a Boeing será assinado. A expectativa é que o negócio seja concluído até o final de 2019.
A demora para o anúncio é esperada, segundo analistas ouvidos por EXAME, e reflete a complexidade do negócio. Assim, a transação também ficou mais caro do que as expectativas iniciais. Se, de um lado, o valor da companhia resultante da joint venture aumentou, com o aumento dos custos da transação o valor recebido pela Embraer deve se manter estável, em torno de 3 bilhões de dólares.
A empresa precisa reestruturar sua área de tecnologia, infraestrutura e realocar funcionários, já que as suas áreas de aviação comercial, executiva e de defesa atuavam de forma integrada.
De acordo com o presidente da fabricante, Paulo Cesar de Souza e Silva, essa é uma previsão conservadora e as duas empresas devem trabalhar para reduzir esses custos. Qualquer economia deve ser separada igualmente entre as duas empresas.
A joint venture era aguardada pelo mercado, que respondeu bem ao negócio: as ações da empresa chegaram a subir 7%.
A expectativa era alta, já que a Embraer corria riscos de ser ultrapassada pela concorrência, em um mercado cada vez mais concentrado por conta de outro negócio, firmado em outubro do ano passado. A gigante francesa Airbus, concorrente da Boeing, comprou o controle da divisão de aeronaves comerciais da canadense Bombardier, concorrente da Embraer.
A nova força que Airbus e Bombardier têm juntas levou a Boeing a, logo em seguida, negociar a compra de uma participação na brasileira. “O mercado estava preocupado que, a longo prazo, a Embraer teria dificuldades para se manter independente com o aumento da concorrência”, afirma André Castellini, sócio da consultoria Bain & Company.
Se a Embraer ganha fôlego e perde os riscos de ser esmagada pela concorrência, a Boeing complementa seu negócio. A Embraer é líder no segmento de aeronaves para 37 a 130 pessoas, enquanto a Boeing fabrica aviões a partir de 150 assentos. O time de engenheiros da Embraer também é um ativo interessante para a Boeing.
O negócio depende agora do aval da presidência, garantido pelo poder de veto que tem sobre a venda da companhia.
Como o anúncio foi feito em um momento de transição de governos, não ficou claro quem deverá tomar essa decisão, se o atual presidente Michel Temer ou se o presidente eleito Jair Bolsonaro. Porém, segundo analistas, a transição não deve prejudicar o negócio, já que ambos anunciaram posição favorável à joint venture no passado.
Outros segmentos
Na mesma ocasião, a Embraer também anunciou outra joint venture com a americana: de desenvolvimento do projeto KC-390, avião de defesa da brasileira. Nessa nova empresa, a Embraer terá uma participação de 51% e a Boeing, os 49% restantes. “Ambas empresas irão alocar alocarão caixa e ativos nessa joint venture”, afirma o presidente, Paulo César.
As empresas ainda terão um contrato de longo prazo para pesquisa, desenvolvimento, propriedade intelectual, suporte e cadeia de suprimento.
Essas parcerias podem impulsionar o negócio da Embraer no segmento executivo e na área de defesa. Com a Boeing, a brasileira ganha escala e acesso a uma equipe de vendas mais ampla.“A Embraer terá acesso a logística, fornecedores e estrutura de vendas da gigante Boeing, que pode fortalecer a brasileira”, afirma Fábio Falkenburger, especialista em aviação do escritório de advocacia Machado Meyer.
Um dos objetivos é desenvolver o KC-390 em mercados onde ele ainda não está presente. A joint venture no segmento de defesa pode dar ainda mais força para a Embraer. “Entendemos que muita coisa pode mudar dentro da companhia, com esse impulso na área de defesa”, segundo Gabriela Moro, analista da Eleven Financial.
Exame
https://exame.abril.com.br/negocios/como-fica-a-embraer-com-e-sem-a-boeing/
(Notícia na Íntegra)