Aquecimento
do setor depende também de uma sinalização positiva em relação à conjuntura
econômica do país
Luciane
Lisboa
Na
tentativa de impulsionar o mercado de ações brasileiro - que no ano passado
ficou praticamente parado, com a concretização de apenas uma oferta pública
inicial de ações (IPO na sigla em inglês) -, a Comissão de Valores Mobiliários
(CVM) vem realizando mudanças em algumas regras que tendem a impactar
positivamente o mercado de capitais do país. No entanto, na opinião de
especialistas ouvidos pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO, diante do atual cenário
econômico, apenas essas ações não teriam força suficiente para alavancar o
setor, que depende também de uma sinalização positiva em relação à conjuntura
econômica do país.
"Realmente
as medidas realizadas pela CVM foram avanços, mas independem do mercado. Éuma vontade dela (CVM) de promover as empresas, em especial
as pequenas e médias. Existe, portanto, uma grande expectativa de que isso
possa viabilizar mais ofertas do tipo. Mas realmente nada vai acontecer se não
houver otimismo do mercado, principalmente o estrangeiro", afirmou o
analista Gustavo Rugani, advogado responsável pelo escritório do Machado,
Meyer, Sendacz e Opice Advogados em Belo Horizonte.
Em
setembro do ano passado, a CVM aprovou a edição da Instrução 551 (que reviu a
anterior 476) que tem como objetivo reduzir prazos e custos para as companhias
interessadas em captar recursos na bolsa de valores.
A partir
da edição da norma foram incluídas as ações no rol dos valores mobiliários que
podem ser objeto de ofertas públicas distribuídas com esforços restritos de
distribuição (sujeitas, portanto, a determinadas restrições quanto à negociação
dos papéis e à quantidade de investidores participantes da oferta).
"Ou
seja, simplifica o processo e o flexibiliza, porque aumenta o número de
investidores. A oferta restrita poderá convidar 75 investidores qualificados e
fechar a operação com até 50 compradores. Antes eram no máximo 50 para investir
e 20 compradores Ou seja, aumenta o número de pessoas que pode adquirir esses
ativos", explicou.
Rugani explicou que, desde então, houve no fim do ano
passado uma tentativa de utilização desse procedimento por meio da rede
varejista de moda Restoque, dona de marcas como Le Lis Blanc e Dudalina, mas a
oferta foi cancelada em razão de condições adversas de mercado.
Além da
Instrução 551, a CVM abriu, no fim do ano passado, audiência pública para
propor mudanças que visem democratizar o poder de voto dos acionistas
minoritários, por meio de votação a distância em Assembleias Gerais de
Companhia Abertas. As ações visam estimular investidores pessoas físicas a
participar do mercado de capitais, simplificar as transações na bolsa, além de
incluir novos setores e alongar o prazo dos benefícios concedidos às debêntures
destinadas a projetos de infraestrutura.
Tíquete
alto - Para o analista de mercado e
sócio da PwC Brasil, Ivan Clark, as medidas são muito importantes, até porque
uma das características mais negativas do mercado de capitais brasileiro é
possuir um dos mais altos tíquetes médios de operações do mundo. "Enquanto
na maioria dos mercados o tíquete médio é de R$ 50 milhões, no Brasil passa de
R$ 400 milhões", ressaltou.
Segundo
Clark, o Brasil precisa mesmo incentivar o desenvolvimento do mercado de
capitais. Há alguns anos foi feito nos Estados Unidos um movimento semelhante
que surtiu efeitos bastante expressivos. "No ano passado, o mercado de
capitais norte-americano bateu recorde. Foram 304 IPOs com movimentação de U$
87 bilhões."
Porém, o
momento difícil, de incertezas no rumo da economia, grandes variações cambiais
e crises políticas, hídrica e de energia não favorecem esse mercado. "Até
porque a maioria dos IPO realizados no Brasil é com recursos de fora. Cerca de
60% a 70%", ressaltou.
Divulgação - Já para o presidente do Instituto Mineiro do
Mercado de Capitais (IMMC), Paulo Ângelo de Souza, falta também no país um
maior conhecimento do mercado de capitais. "Essas ações da CVM são muito
positivas mas não vejo quase nenhuma divulgação disso na grande mídia. As
pessoas não fazem ideia do que se trata ou conhecem muito pouco o tema. É
preciso disponibilizar mais informações para atrair mais pessoas",
completou.
Diário do Comércio - p. 21