As primeiras emissões de ações de 2017 conseguiram cimentar o caminho para a atração de outras companhias que vislumbram abrir o capital na Bolsa brasileira ainda neste ano. Apesar de a Unidas ter desistido de acessar o mercado, o início de 2017 foi considerado positivo. A maior expectativa, porém, está nas emissões de julho e outubro, janelas bilionárias em que as grandes empresas deverão vir a mercado, caso de Carrefour e XP Investimentos.
Até aqui, a Bolsa brasileira já foi palco de duas ofertas iniciais de ações (IPO, na sigla em inglês) e uma oferta subsequente, as três em fevereiro. Na próxima semana haverá a precificação das ações da Lojas Americanas, em seu follow on, que poderá movimentar até R$ 2,5 bilhões. Para abril está prevista até aqui a oferta da companhia aérea Azul e ainda da Log Commercial, da MRV. Na fila também estão NotreDame Intermédica, Tivit, Hapvida e IRB Brasil Re. Depois de um período de apatia, a Bolsa se mostra, nesse momento, como uma alternativa real para captação de recursos por parte das companhias.
"Estamos muito otimistas em relação às janelas do restante do ano. Vemos transações relevantes em junho e em julho. As companhias estão querendo comprar essa opção. Para essa janela estamos vendo quatro operações, todas ofertas iniciais e, para o segundo semestre, ao menos mais duas, todas grandes", afirma o diretor da área de mercado de capitais do Credit Suisse, Marcelo Millen.
A movimentação está em ritmo crescente, destaca o chefe do banco de investimento do Bank of America Merrill Lynch, Hans Lin, desde a realização da oferta subsequente da Energisa, em julho do ano passado. "A Energisa reabriu o mercado, com uma transação bem distribuída, alta demanda e com boa liquidez", afirma.
A expectativa de que o segundo semestre será mais forte para as captações das empresas via ações está apoiada ainda na percepção de que os resultados das companhias estarão melhores, o que ajudará no momento de vender a oferta aos investidores. Para ofertas em julho, por exemplo, o resultado a ser utilizado no prospecto da oferta é o referente ao primeiro trimestre do ano. Para emissões de ações em outubro, o balanço apresentado será o do primeiro semestre do ano.
"As histórias das empresas que terão sucesso são aquelas que durante a tempestade apresentaram resiliência, conseguiram entregar resultados e que agora têm expectativa de crescimento futuro", destaca o sócio da área de mercado de capitais do escritório Mattos filho, Jean Marcel Arakawa. O especialista aponta ainda que existe uma expectativa de emissões vindas de processos de privatização, que começarão a olhar a bolsa de valores como alternativa para tal movimento.
Lin, do Merrill Lynch, aponta que as ofertas podem se concentrar no segundo semestre, por conta também das expectativas em relação à economia direcionadas para 2018, ano em que o Brasil poderá ter um retrato mais favorável. "Nesse momento, podemos ter sinalizações firmes, como início da queda do desemprego, apontando assim para uma perspectiva melhor para 2018", diz.
Outra razão que promete atrair as empresas para emitirem ações em 2017, acredita a sócia da área de mercado de capitais do Machado meyer, Eliana Chimenti, é evitar 2018, ano de eleição presidencial no Brasil, o que deve trazer volatilidade ao mercado, algo sempre negativo quando se trata de emissão de ações. "Deveremos ver um movimento intenso em julho e outubro. Tem empresa que quer evitar 2018", destaca.
Um ponto chave para destravar a extensa lista de empresas que vislumbram abertura de capital para este ano está o andamento das reformas previstas pelo governo, como a da Previdência e a trabalhista, pondera o diretor presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto. "O futuro das companhias brasileiras passará pela bolsa de valores, em especial se as reformas prometidas pelo governo saírem do papel", observa.
Pilares
O sócio da área de Mercado de Capitais do escritório Pinheiro neto, Guilherme Monteiro, disse que, no momento, a expectativa de melhora da economia em si tem animado, o que levou a um melhor início de ano para emissão de ações. Monteiro diz que o movimento em 2017 segue, essencialmente, três pilares: o primeiro é o de empresas que precisam de recursos para investir; o segundo e o de companhias de setores que estão sob os holofotes do mercado, como o de saúde; e o terceiro, de empresas que estavam há tempos na fila, já estruturadas para um IPO.
Millen, do Credit Suisse, diz que houve uma reversão de humor por parte dos investidores em relação à renda variável, com mudanças de expectativa em relação aos aspectos macroeconômicos da economia brasileira. "Há uma expectativa de um maior ritmo de queda de juros e o desempenho da bolsa tem sido muito bom".
Hans Lin observa que, apesar das expectativas mais positivas, a volatilidade não foi deixada de lado e deverá marcar o mercado, ao menos por ora. Assim sendo, continuaremos com o dual track, que é um processo que ocorre em paralelo: ou a busca de uma operação de fusão e aquisição (M&A, na sigla em inglês) ou uma oferta inicial de ações. "Tenta-se reduzir o risco", explica Lin. (Fernanda Guimarães - Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.)
Agência Estado