Luís Viviani | São Paulo
O home office ou teletrabalho ainda é uma prática pouco madura nos grandes escritórios de advocacia do país, apesar de alguns tribunais já terem regulamentado o instrumento.
As grandes bancas não implantaram de fato a prática e usam a funcionalidade somente em alguns casos pontuais. O JOTA conversou com alguns escritórios para captar um retrato sobre como o teletrabalho vem sendo tratado pela iniciativa privada no momento em que o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) propõe a adoção de regras nacionais para o mecanismo.
Segundo o sócio gestor do escritório Pinheiro Neto Advogados, Alexandre Bertoldi, não há política oficial na empresa, mas casos específicos que visam acomodar situações pessoais e temporárias.
"Não adotamos porque acreditamos que a natureza da nossa atividade requer não só o contato com clientes, mas, principalmente, a interação diária entre os nossos advogados - que favorece a troca de informações e o compartilhamento do conhecimento, além de ser fator fundamental na transmissão e preservação da cultura do escritório", explica.
Interface
No mesmo caminho, o advogado da área trabalhista Henrique Soares Melo, do Demarest Advogados, também disse que não há uma política pré-definida para a prática no escritório, sendo possível apenas em alguns casos através da existência de uma funcionalidade de acesso ao sistema de forma remota.
"Se necessário, por algum motivo, o advogado resolver trabalhar na casa dele, há toda a funcionalidade para isso, como o sistema de telefonia, e-mail e sistemas de arquivo do escritório. Temos todas as ferramentas desenvolvidas pela TI [Tecnologia de Informação] que dão a mesma interface se tivesse na mesa do escritório", explica Melo.
Para ele, o assunto é uma questão que ainda deve ser estudada e não há "portas fechadas" para isso. Por outro lado, é necessário haver planejamento de implementação com políticas e regras.
"Trabalhamos bastante com exemplo de empresas que adotam o home office, e a experiência desses clientes é que a prática traz um índice de satisfação muito grande, uma modernização do trabalho", diz.
Porém, Melo alerta para certas cautelas que devem ser adotadas para evitar gerar riscos pra empresa.
"Não tem regra fechada. Recomenda-se que a prática seja precedida de análise porque alguns pontos podem gerar riscos para a empresa, como o controle de horários e a adoção de proteções em termos de tecnologia e informática pra garantir a confidencialidade das informações", apontou.
Combinação prévia
A gerente de desenvolvimento humano Renata Maiorino, do Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga, conta que não há uma política definida sobre home office na empresa, mas que as pessoas podem combinar com os diretores para uso da prática, de modo informal.
Além disso, Renata explica que há um projeto de cultura institucional sendo desenhado pela banca que busca flexibilizar e inovar o ambiente de trabalho, com a proposta de um novo formato que traga mais modernidade, e o home office seria inserido como uma das modalidades.
"Importante ressaltar que, apesar de nada concreto, é um projeto bem importante para o escritório, que vai mudar o patamar do jeito que se organiza. Queremos algo bem estruturado justamente porque o mundo está pedindo essa flexibilidade, então estamos bem atento a isso. Falamos de maternidade também", diz.
Gestantes e viagens
Já o sócio da área trabalhista Sólon Cunha, do escritório Machado Meyer Sendacz e Opice, conta que não há um estímulo para o trabalho em casa, porém há um investimento cada vez maior no modelo de trabalho à distância, com a intenção de estimular o estilo quando houver necessidade, como por exemplo nas viagens.
"Hoje temos uma capacidade instalada de 40% para que boa parte do escritório possa trabalhar fora. Mas tem que ser pontual, não temos intenção de contratar um advogado que trabalhe em casa, pois fere princípio do escritório em si. Pode ser estimulado em momentos de necessidade", aponta
Uma das situações citadas diz respeito às gestantes. O escritório criou, em 2011, o programa "Mulheres no Machado Meyer" com o objetivo de promover iniciativas para que as advogadas possam conciliar a carreira e a vida pessoal.
"Entre outras ações, o programa permite que as profissionais façam home office em períodos de pré e pós licença maternidade, durante a parte da manhã ou da tarde. O tempo de home office é avaliado caso a caso".
Contudo, Sólon afirma que há uma discussão grande na área jurídica, sobre o home office diminuir o trabalho de equipe e perder experiência com colegas, além de criar isolamento social.
"Trabalho é convivência, objetivos, metas, troca de experiência, faz parte da formação do profissional que se espera. E nosso escritório se destaca por essas equipes de trabalho", disse.
(JOTA - 23.08.2015)
(Notícia na Íntegra)