Por Paula Dume
Recuperação foi tímida no primeiro semestre, mas já indica melhora
Hoje, as redes maiores de mercados adquirem as menores para disputar a liderança, ganhar escala ou aumentar a presença em outras regiões
O setor de varejo é amplo e compreende uma variedade de indústrias específicas. Nos últimos anos, supermercados, eletrodomésticos, eletroeletrônicos e farmácias têm se destacado no segmento e, apesar de não haver grandes operações de M&A represadas, existem várias oportunidades no mercado.
Segundo José Roberto Securato Junior, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar) e diretor da Saint Paul Advisors, o varejo é o terceiro setor que realiza mais M&As, se somado ao setor de consumo. “Se juntarmos as áreas corretas, o setor fica em terceiro lugar e não em posições inferiores, como apontam os rankings. É preciso analisar cada subsetor do varejo para ver quais têm espaço para consolidação e em quais ela já aconteceu”, explica.
O vice-presidente alerta que os grandes varejistas deveriam investir em tecnologia no país. Ele acredita que os empresários precisam desenvolver startups e começar a embarcar em novas soluções e tecnologias para inovar seus negócios, já que o e-commerce está transformando o cenário do varejo em todo o mundo.
De acordo com a 20ª edição do relatório “Os poderosos do varejo global: a arte e a ciência dos clientes”, divulgado pela Deloitte neste ano, as vendas online cresceram. O estudo, que leva em consideração as 250 maiores empresas de varejo no cenário mundial, aponta que os varejistas estão investindo no espaço físico e intensificando sua presença digital.
Tendência positiva
Apesar das crises financeira e política, Mauro Leschziner, sócio de M&A do Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados, estima que haverá a retomada das atividades. “Ouvimos que está havendo uma recuperação, ainda que tímida. Há uma demanda reprimida. Se o desemprego estabilizar ou diminuir, vai ter um crescimento no setor”, projeta o sócio do Machado, Meyer.
A sócia de M&A do Souza, Cescon, Barrieu & Flesch Advogados, Marina Prado, considera que a tendência é de otimismo e já percebe a aceleração de mais casos no escritório.
José Roberto Securato Junior, vice-presidente do Ibevar, confirma que vários associados da instituição enxergaram uma recuperação no primeiro semestre deste ano, mas ela ainda não é plena e precisa melhorar. “Existem várias oportunidades no mercado. Tem muita gente abrindo lojas e fechando também. Temos que olhar para os dois lados. Nessas mudanças de modelo de negócios, podemos identificar novas oportunidades”, analisa o vice-presidente.
Pequenos mercados?
Entre 2005 e 2012, quando o mercado estava com o poder de compra aquecido, os fundos de private equity realizaram vários investimentos no setor. André Bernini, associado da área de M&A do Pinheiro Neto Advogados, cita duas operações emblemáticas — a fusão das Casas Bahia com o Pão de Açúcar, em 2009, que criou a Via Varejo, e a aquisição do Atacadão pelo Carrefour, em 2007. “Naquele momento, o Carrefour enxergou o sucesso do ‘atacarejo’ e investiu. Hoje, com o IPO do Atacadão, o Carrefour provou que a aposta era correta”.
André afirma que hoje os fundos investem em mercados menores para consolidá-los em uma determinada região e depois torná-los alvo para alguma grande rede comprá-los. “Você não vê investidores de private equity ou outros investidores em busca das grandes redes. São os grandes players que estão disputando o mercado na última década. Essa é uma das características deles: crescimento orgânico e por aquisições”.
O advogado lembra que as redes eram menores antigamente. Hoje, as maiores adquirem as menores ou as estratégicas para disputar a liderança, quando possível, mas também para ganhar escala ou aumentar a presença em outras regiões.
Pontos de atenção recorrentes
Normalmente, uma operação dura de quatro a seis meses nesse segmento. Pode levar mais tempo, se o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) demorar para analisá-la.
Segundo André Bernini, do Pinheiro Neto, a autarquia é uma das preocupações dos advogados desde o início da operação por conta de o faturamento ser alto, e a margem, baixa. “Você deve ficar atento a quais praças poderão ter sobreposição e se isso pode gerar algum tipo de restrição no Cade, um processo mais lento no rito ordinário, um risco de não aprovação ou uma imposição de restrição”, avalia André.
Quanto aos contratos, destaque para os que envolvem fornecedores e instituições financeiras. Ambos precisam ser informados sobre a mudança do controle da empresa. Mauro Leschziner, sócio do Machado, Meyer, destaca que a discussão de passivos e limite de endividamento são impasses recorrentes, porque é um setor de capital intensivo, e as empresas precisam investir muito para crescer.
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