A busca pela sustentabilidade vem se mostrando cada vez mais presente no cotidiano das empresas, do mercado e da sociedade. Ao tratar do tema, é inevitável abordar a questão do consumo.
Na sociedade contemporânea, o consumo se tornou um pilar na vida do ser humano. O aumento do consumo de produtos ao redor do mundo, aliado à crescente urbanização e ao crescimento da população, resulta em um excesso de uso dos recursos naturais. Nesse contexto de pressão sobre os recursos naturais e a biodiversidade, o mundo volta os olhos para o consumo consciente sustentável.
Segundo o Instituto Akatu, o consumo consciente é aquele em que o consumidor se preocupa com os impactos que a escolha de determinado produto ou serviço pode gerar. É a conscientização dos impactos positivos ou negativos sobre o meio ambiente e as relações sociais gerados não apenas pela escolha do que comprar e/ou contratar, mas também de sua cadeia produtiva e de como descartar um produto.
O consumo consciente não pressupõe que o consumidor deixará de considerar critérios tradicionais na escolha dos produtos e serviços, como qualidade e preço. A ideia é adicionar outros critérios de decisão que permitam avaliar as consequências para o meio ambiente, como, por exemplo, considerar o potencial impacto da compra de um produto que não poderá ser destinado para reaproveitamento ou reciclagem.[2]
Nesse aspecto, identificamos a possibilidade de o consumidor, como elemento final e determinante do modelo de consumo da sociedade, direcionar os meios de produção e as atividades industriais para modos menos impactantes numa perspectiva socioambiental. O mindset do consumidor no momento de optar por determinado produto ou serviço passa a ser elemento relevante para alterar os modos de produção e a disponibilização de serviços.
Diante da relevância do tema, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 12, que trata do consumo e produção responsáveis, buscando garantir padrões de consumo sustentáveis.
Pesquisa do Instituto Akatu apontou que o principal obstáculo à adoção de hábitos mais sustentáveis, na opinião dos consumidores, é a necessidade de empreender um certo esforço (emocional, logístico ou econômico) para modificar comportamentos pessoais ou familiares, buscar informações a respeito dos impactos ambientais e sociais inerentes a uma determinada marca ou mesmo escolher um produto ou serviço cuja cadeia produtiva privilegie a sustentabilidade.
A tecnologia tem um papel fundamental na superação dos entraves às mudanças de hábitos e comportamentos dos consumidores em prol da sustentabilidade. Desde aplicativos que traçam o perfil de consumo do usuário e sugerem a substituição de certos hábitos por alternativas mais sustentáveis e baratas, a ferramentas de localização que apontam os lugares mais próximos para o descarte adequado de inúmeros tipos de resíduos, as diversas soluções tecnológicas disponíveis têm facilitado o acesso dos consumidores às informações necessárias para uma tomada de decisão mais consciente a respeito dos potenciais impactos ambientais e sociais de cada compra.
A crise sanitária decorrente da pandemia de covid-19 impôs mudanças nos hábitos dos consumidores em razão das medidas de isolamento social. Essas alterações de hábitos, que forçaram a sociedade a experimentar novos serviços, produtos, marcas e, sobretudo, novas maneiras de consumir, representam uma oportunidade para as empresas que operam com meios mais sustentáveis de produção.
Esse ponto de virada tem servido à readequação dos critérios de compra de muitas pessoas, com uma crescente procura por produtos e serviços mais sustentáveis.[3] Muitos dos novos hábitos de consumo adquiridos em tempos de pandemia tendem a ser adotados de maneira permanente pelos consumidores.
Uma das formas de o setor privado contribuir com a mudança de mindset para consumo consciente é oferecer ao consumidor informações sobre ciclo de vida sustentável dos seus produtos, serviços e processos.
Entre as medidas que podem ser adotadas pelo setor privado, destacam-se:
- implementação de sistemas de logística reversa;
- disponibilização de informações sobre a reciclagem dos produtos ofertados;
- condução de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) dos produtos, utilizando a matéria-prima de forma consciente;[4]
- disponibilização de produtos com oferta de refil;
- venda de produtos duráveis e econômicos;
- redução do consumo de água e energia elétrica nos meios de produção, dando preferência ao uso de energias renováveis;
- adoção de embalagens recicláveis e/ou biodegradáveis;
- promoção de educação ambiental, enfatizando a abordagem do consumo consciente;
- sustentabilidade como missão e valor da empresa; e
- apoio a projetos e causas socioambientais.
Mais do que uma exigência do novo consumidor, essas medidas já são obrigatórias em diversos setores de produção e, consequentemente, a sua não observância pode se tornar tema de ações coletivas, ajuizadas pelo Ministério Público e associações civis em defesa do meio ambiente.
Embora seja notável a movimentação da sociedade para adoção de ações concretas direcionadas à sustentabilidade dos meios de produção, ainda há certos obstáculos para o consumo consciente. Por isso, exige-se do mercado o papel fundamental de oferecer educação ambiental e social, notadamente quanto ao consumo de produtos e serviços mais sustentáveis.
A tendência é o consumidor se preocupar cada vez mais com o impacto socioambiental que o consumo de determinados produtos pode causar, de forma que aqueles considerados efetivamente mais poluidores (ou decorrentes de meios de produção de significativo impacto socioambiental) passem a ser vistos não mais como solução, mas como um problema para as gerações futuras. O consumo consciente é, sobretudo, uma preocupação com o coletivo e com o futuro.
[1] Dias, S. L. F. G. & Moura, C. (2007). Consumo sustentável: muito além do consumo “verde”. Anais
do Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração,
Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 31.
[2] SOUZA, M. C. G. L.; CASOTTI, L. M.; LEMME, C. F. Consumo consciente como determinante da sustentabilidade empresarial: respeitar os animais pode ser um bom negócio. Revista de Administração da UFSM, v. 6, n. Edição Especial, p. 861-877, 2013.
[3] MELO, C. Como o coronavírus vai mudar nossas vidas: dez tendências para o mundo pós-pandemia. El País. São Paulo. 12 de abr. de 2020. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/opiniao/2020-04-13/como-o-coronavirus-vai-mudar-nossas-vidas-dez-tendencias-para-o-mundo-pos-pandemia.html> Acesso em: 28 de abr. de 2020
[4] MATTSSON B, SONESSON U (Ed.) Environmentally-friendly food processing. Cambridge: Woodhead Publishing Limited, 2003. 337 p.