O ano de 2019 teve movimento bastante aquecido no mercado de capitais brasileiro. Houve um crescimento expressivo nas emissões em renda tanto fixa quanto variável.
Renda fixa
Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima),[1] 2019 consolidou o crescimento das captações de dívida (renda fixa): foram 21,8% de expansão, após um aumento importante de 28,6% em 2018. Em números absolutos, o volume captado saltou de R$ 172 bilhões, em 2017, para R$ 270 bilhões em 2019, com alta relevante nas emissões de debêntures e em quase todos os demais produtos. A única exceção foram os FIDCs (fundos de investimento em direitos creditórios), que, apesar de apresentarem crescimento em relação a 2018 em volume captado, registraram redução na comparação com 2017 (em grande parte, devido ao desenvolvimento de estruturas alternativas de captação).
Em número de operações, o crescimento não foi relevante: o total de 605 transações significou um aumento de 3,2% em relação ao ano anterior – que, por sua vez, representou um crescimento de 1,2% em relação a 2017.
Percebe-se, assim, um aumento relevante do ticket médio das operações (valor total por emissão), o que eleva a possibilidade de desenvolvimento de um mercado secundário ativo para esses papéis. No entanto, o corte das taxas de juros levou à redução do spread pago aos investidores, grande parte dos quais migrou para a renda variável em busca de retornos melhores, como mostram os números a seguir.
Renda variável
O mercado de renda variável apresentou crescimento bastante expressivo em 2019, passando de decepcionantes R$ 5 bilhões captados em 2018 para R$ 80 bilhões em 2019. Em volume de operações, o aumento foi proporcional: seis operações em 2018 (três delas, IPOs) para 42 operações em 2019 (sendo 5 IPOs).
Dois fatores se destacam na análise desse cenário:
Em primeiro lugar, grande parte do aumento foi capturado por emissões subsequentes de ações (os chamados follow-ons), por meio das quais empresas já listadas obtém recursos adicionais com a emissão de novas ações e/ou acionistas alienam parte ou a totalidade de seus investimentos, aproveitando o bom momento do mercado. Tais operações, na maioria absoluta das vezes, são estruturadas por meio de ofertas com esforços restritos de colocação, sob a regulação da Instrução CVM nº 476, que deu impulso importante e efetivo a captações rápidas e eficientes para os emissores. Tais operações apresentam cronogramas bem menores que o das transações registradas na CVM, o que dá agilidade aos emissores para aproveitar as janelas de oportunidade do mercado. No entanto, por restrições regulatórias, elas não permitem uma oferta ampla de ações ao público em geral – ficam limitadas aos atuais acionistas da companhia (que têm direito de prioridade sobre as novas ações emitidas), a investidores estrangeiros e a até 50 investidores brasileiros.
O segundo fator foi o crescimento da participação de capital local nas ofertas de ações, muito provavelmente impulsionado pela redução de juros e pela necessidade de melhorar o retorno de fundos e portfólios institucionais para investidores.
Outro destaque no segmento de renda variável foi a indústria de fundos imobiliários, cujo tamanho mais que dobrou em termos de volume captado (R$ 16 bilhões em 111 operações em 2018 para R$ 36 bilhões em 150 operações em 2019).
Expectativas para 2020
Há consenso entre analistas de mercado e bancos de investimento de que 2020 promete ser um ano ainda mais forte que o anterior para o mercado de capitais brasileiro, em especial no segmento de renda variável. Com o fim do período de estagnação econômica, o pipeline de candidatas a ofertas de ações pode ser liberado agora de uma só vez.
Há bancos de investimentos com mais de 30 ou 40 mandatos assinados para representar emissores em ofertas de ações. Além disso, o mês de janeiro, tradicionalmente com menos movimento no mercado de renda variável, já começou com forte demanda por emissões, o que é um bom indicador do que está por vir. Surgem também ofertas de ações sem esforços de venda no exterior, o que demonstra a confiança de emissores e bancos de investimento no mercado local como fonte de demanda dos papéis e evidencia um potencial de captação para operações ou emissores de menor volume.
O momento agora é de avaliar bem o timing das operações para evitar ofertas entre concorrentes de um mesmo setor ou a concomitância com grandes ofertas que tendem a atrair capital e reduzir as chances de sucesso de ofertas menores.
Para as empresas candidatas, a palavra-chave é preparação. Em um mercado forte como o que parece ser o atual, a capacidade de entrega é um diferencial importantíssimo. Ele depende diretamente da organização interna da empresa e da experiência da equipe e de seus assessores, que precisam demonstram expertise para apoiar o projeto em todas as suas fases.
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